Em entrevista exclusiva para o Mais Novela, a atriz Isabel Teixeira abriu o coração e falou seu ponto de vista sobre todo tormento que Maria Bruaca tem vivido em Pantanal. Aos 48 anos, Isabel afirma que nunca viveu um relacionamento dessa forma, mas algumas situações abusivas. Questionada sobre a torcida para que a Bruaca abandone Tenório (Murilo Benício), a paulista é taxativa: “O telespectador está vendo de fora e assim é muito fácil falar quando você não está dentro da relação como ela”. No bate-papo Isabel comenta o caso que sua personagem vive com Alcides (Juliano Cazarré) e claro sobre a cena que rendeu muitos memes “fivela de respeito hein Alcides”. Confira a entrevista.
Como você vê a expectativa do telespectador para que a Maria Bruaca se liberte desse relacionamento abusivo?
Tenho pensado muito nisso porque eu tenho tentado entender também, né? A gente está vendo um relacionamento abusivo de fora, então quando a gente está dentro acha normal coisas que não são normais. No texto original, ela se casou com Tenório aos 19 anos e pulou a janela de casa para casar com ele. Então eu acho que eles se apaixonaram, tinha amor. E a gente construiu um pouco isso assim, mostrando que em alguns momentos muito, muito, muito raros, umas duas micro cenas, tem ainda um resquício do que eles possam ter vivido. Acredito que o casamento acabou pela falta de diálogo e essa relação abusiva tomou forma e ela naturalizou isso de alguma maneira. Acho que a Maria Bruaca, também sofre outro tipo de abuso quando Tenório coloca ela dentro de casa sem acesso a uma televisão, a uma revista, a um livro, a uma música, ela não se encontra com ninguém ali dá nas imediações da fazenda. Ela sofre um abuso na medida em que ele tira a possibilidade de informação dela. Ela não tem cultura, ela não tem acesso à cultura, isso também é abusivo. Porque aí a pessoa perde a referência, né? Então assim, o telespectador está vendo de fora e assim é muito fácil falar quando você não está dentro como ela, né?
Trair não seria uma solução tão correta, mas o público fica eufórico com o affair da Bruaca com Alcides…
Acho que essa essa torcida para traição simboliza a liberdade. Mas eu fiquei pensando, poxa não é só isso, porque porque isso é popular, né? Isso é é isso é da história popular, isso é a primeira camada, né? ”Bota um cropped e reage Mary Bru”. A pessoa se pergunta, isso é bom pra mim? E fala, não. Ah, não é bom pra mim. Então, eu vou mudar. E aí ela dá um passo em direção a mudança. E pronto, muda. Se fosse simples assim, seria maravilhoso, mas não é tão simples, é complicado, exige coragem, exige a gente sair mesmo da nossa zona de conforto, exige a gente ir em direção a algo desconhecido, a emoções desconhecidas. Eu acho que o público está se reconhecendo na na vontade dela de mudar. E isso é muito gostoso né? De olhar de fora assim.
Ela vivia normalmente, achando que aquele aquele tipo de relacionamento dela era normal e continuaria assim a de infinito. Mas tem uma coisa que dramaturgicamente é muito linda nessa chegada da Guta na casa, ela entra esvoaçando pelo corredor, com essa a mala da mudança e começa a falar coisas para a Bruaca. E começa um movimento e depois a descoberta que o Tenório tem outra família aí eu considero no meu estudo da curva dessa personagem da Maria que ela perde o chão ela começa um abalo sísmico em tudo que ela tinha como concreto pra pisar sabe? Nessa fase que a gente ainda está no ar ela ainda está se debatendo, tem raiva, perceba,, ela tem ódio, tristeza, e tem ironia. Ela cai eu acho que o aprendizado da Maria Bruaca vem pela queda, sabe? Ela não é uma heroína que fala vou vou me salvar desse jeito sei o que fazer, não é isso, ela vai caindo. Então eu acho que o público está com ela no sentido quer que ela reaja, que ela tem essa torcida meio de arena, torcida de jogo mesmo. E esse restauro mesmo de alma que ela vai ter que fazer depois de viver 30 anos num casamento que não era verdade. Não é um homem que vai salvar a gente e restaurar o nosso mais secreto coração que está ferido, é a gente mesmo e isso é uma viagem interior muito profunda. Precisamos respirar muito pra ter coragem, e não é fácil não.
Temos ciência que infelizmente muitas mulheres sofrem dentro de uma relação tóxica. Acredita que sua personagem tem um papel que vai além de entreter e sim alertar também?
A novela cumpre um um papel muito importante social e cultural, porque a trama é referência. Se a Maria Bruaca visse essa novela na televisão toda noite ela olharia pro lado, ela torceria pra Maria Bruaca botar um cropped e reagir e olharia pro lado e falaria aí meu marido faz parecido com o que o marido dela faz com ela. Ou seja, ela teria referência. E ela reagiria e colocaria um cropped e falaria chega. Eu vejo que o telespectador olha desse jeito, de fora ele entende o que está acontecendo com ela e torcem pra esse ponto de virada, para esse ponto de mudança onde a gente fica mais coerente com a gente mesmo e realmente faz o que é bom pra gente sem machucar o outro né? Nossa que difícil que difícil!
Vendo a repercussão da sua Maria Bruaca, no seu ponto de vista o que mais está chamando atenção do público trazendo para os dias de hoje algo que já acontece a tantos anos que é a mulher se submeter ao relacionamento tóxico?
Estamos num compasso de mudança há muito tempo em relação ao patriarcado mesmo, de estrutura. Minha mãe foi uma mulher da década de setenta que foi super feminista naquela época sabe? E me criou praticamente sozinha, claro que sempre com a presença do meu pai, mas sou filha de pais separados da década de setenta, não tinha guarda compartilhada, minha mãe foi uma guerreirona, que batalhou muito por direitos que as mulheres ainda estão batalhando até hoje. Tem uma cena linda que a Maria Bruaca fala pra Guta, que a lei foi feita pelos homens para os homens, não foi feita pra gente. O mundo é assim. Não foi feito pra gente. E isso é verdade porque o mundo realmente foi estruturado pelos homens e tudo bem também porque isso vai mudando devagar. A gente está nesse passo de mudança. Então fazendo uma comparação com a própria Ângela Leal que considero autora dessa personagem também e sempre foi uma mulher muito à frente do tempo dela. Na ocasião a reação com a situação da Maria Bruaca, não foi tão revoltada do público como é agora, e eu adoro isso. Naquela época isso era até normal ainda, né? Só que a gente passou a ter uma literatura diferente.Eu acho que algo mudou e a gente não está deixando passar. Tenório não chega a agredir, o abuso que ele faz é um pouco mais difícil de identificar que é o abuso moral. Ele é mais difícil de detectar, não deixa marcas roxas né? O abuso moral também que vem antes do físico e do feminicídio, eu sinto que a gente está em em sintonia com essa mudança geral de paradigma de jeito de pensar, o mundo tá passando por isso. Ainda bem!
Em algum momento da sua vida você se viu em alguma relação tóxica?
Eu não vivi relacionamentos abusivos, a fim de abuso moral, físico, eu não vivi o que eu sinto que me aproxima dessa situação é que às vezes a gente acha normal coisas que não são né? Então por exemplo eu tenho um machismo arraigado em mim por criação, sabe? Sempre senti que eu tinha que dar conta da casa toda e eu sempre trabalhei, desde os 10 anos de idade e amo trabalhar fora, mas eu sempre senti que eu tinha que dar conta de tudo. Tive que desconstruir um pouco isso, que é não ter culpa por não dar conta de tudo. Eu também tive que mudar minha cabeça. Sabe? Frisando, não vivi relacionamentos abusivos, mas eu me vi em situações que nos são dadas. É cultural e socialmente que precisavam mudar. Entende? E me vejo ainda. Estou falando assim de lugar no mundo mesmo, de reconhecer que uma coisa que eu achava normal na verdade não é porque a sociedade está se abrindo um novo tipo de pensamento e eu também preciso desconstruir o que está construindo aqui dentro de mim reformular e estar num mundo onde mudanças estão acontecendo, isso sim. Isso eu vivo.
Se você pudesse ter uma conversa com a Maria Bruaca, qual conselho você daria para ela e para tantas outras mulheres que hoje estão se submetendo a essa relação?
Eu falaria uma coisa que minha mãe me falava quando era viva: Bel fecha os olhos e pergunta lá no seu coração para aquele que não é em relação a nada, que não quer agradar ninguém. Para aquele mais secreto da sua essência. Isso é bom pra mim? E responde com toda sinceridade você sozinha, só você sozinha pode responder isso. Eu acho que minha mãe me deu esse presente, sabe? Não é fácil, mas é um movimento muito legal de se fazer.
Nas redes sociais os memes da Bruaca são um sucesso. Como está sendo receber esse carinho fora das câmeras, nas ruas…
É muito bom esse tête-à-tête, sabe?É um sorriso, de um tchau, de uma intimidade que parece que rola com as pessoas que eu estou entrando na casa delas e eu acho tão bonito assim essa dimensão, né? Quando a gente sai do teatro muitas vezes tem o hall ali quando acaba a peça tem gente que ficou pra conversar e eu acho esse momento muito gostoso e agora eu saindo na rua parece que eu estou sempre nesse lugar do hall do teatro que eu sempre gostei. É uma troca mesmo e eu acho isso muito caloroso e tem essa novidade pra mim das redes sociais que eu acompanho e que é muito espontânea né? Eu tenho visto coisas e como o brasileiro é humorado porque eu juro se você ficasse do meu lado enquanto eu olho o Twitter durante a novela, que eu olho ali, Pantanal e vou olhar, eu dou muita risada. Gosto muito também que as pessoas começaram a dublar e quando me marcam eu vejo tudo e rolo de rir. Eu acho muito legal, saudável por um lado, sabe? Eu tenho recebido esse carinho, porque eu trabalho mesmo com muita entrega é pôr meu coração no que eu estou fazendo e isso me motiva como pessoa enquanto artista.
Já aconteceu alguma situação engraçada ou curiosa ligada aos diálogos da Maria Bruaca que fazem sucesso… ?
Ah, eu acho que sempre tem um negócio da fivela de respeito. Que é muito legal que as pessoas sempre querem citar. Eu acho muito muito bonitinho e acontece direto, fico muito feliz de estar eu e o Juliano Cazarrré ali juntos e aquilo ter viralizado desse jeito. Fico muito feliz com essa troca com o público nas ruas.
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