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Antonio Fagundes – Globo / João Cotta

O ator Antonio Fagundes relembrou sobre a importância da novela Vale Tudo, de 1988, para a história da televisão brasileira. Recém-chegada no catálogo do Globoplay, a trama abordou temas como corrupção e falta de ética. Hoje em dia, a temática da novela ainda traz uma discussão que se encaixa no cenário do Brasil hoje em dia. Tanto que, em uma conversa no Instagram do Mais Novela, o artista contou que, na época das gravações, os atores já tinham a consciência do quanto a história era profunda e importante.

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“A gente sabia exatamente o que estava sendo feito. A novela já na música de abertura dizia a que chegava. Foi uma novela que veio para discutir, criticar e registrar o seu momento. Eu acho que essa é uma das funções da arte. A gente tinha a conciência de que a novela tocava nos nervos expostos do Brasil naquela época. A gente tinha a vontade de que as coisas mudassem. A novela entrou com a vontade de contribuir para essa discussão”, disse ele, que ainda completou:

“Mas eu tenho certeza, pelo menos comigo aconteceu isso, que aquilo ali era o último grito que a gente ia consertar as coisas, que a corrupção ia parar de existir, que a liberdade ia ser cada vez mais forte, que a gente ia ter uma consciência social maior, acabar com o preconceito, estávamos saindo de um período negro da história do Brasil e tentando mudar a nossa realidade. A novela era uma grande contrução para a discussão do nosso tempo. Mas a gente viu que, passados 32 anos, eu não diria que as coisas não melhoraram, eu diria que praticamente pioraram”, refletiu. 

Intérprete do Ivan, Fagundes comentou sobre Odete Roitman, a vilã memorável de Vale Tudo. “Odete Roitman foi insuperável. As coisas que ela falava na novela hoje são politicamente incorretas. É uma vilã extraordinária, muito bem estruturada pelos autores”, disse ele. 

Inclusive, o ator relembrou de um pedido especial que fez para o autor Gilberto Braga. “Eu reclamva muito com o Gilberto. Eu fiz umas seis ou sete novelas com ele, sempre com muito prazer, mas eu tinha uma reclamação com ele. Eu dizia: ‘Você faz os personagens femininos muito mais fortes do que os masculinos. Faz um personagem chamado Maria e manda para mim, que eu mudo para Mario e faço’ [risos]. E ele fez o Felipe Barreto e me mandou, foi ótimo. Era um processo difícil de transformação, do canalha em um santo, que fazia obras de caridade, era muito engraçado”, relembrou, citando o personagem da novela O Dono do Mundo

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Mudando de assunto, Antonio Fagundes contou o motivo de nunca ter desejado seguir uma carreira internacional. “Eu acho que a gente tem tanta coisa para fazer aqui no Brasil. Eu tenho uma necessidade, uma vontade tão grande de me comunicar com o meu povo, com a minha cultura, com os meus problemas… Eu não quero que as pessoas pensem como eu, eu quero que as pessoas pensem. Para você fazer as pessas pensarem no seu problema, você tem que estar dentro deles. Se eu for filmar nos Estados Unidos, eu vou levar uns 20 anos para entender a realidade deles. Aqui eu já tenho isso pronto, eu só preciso tocar no coração das pessoas e esperar que elas saiam modificadas com um trabalho meu”, finalizou.