Em meio a protestos, Ícaro Silva desabafa sobre racismo: ”É difícil ser livre e preto”

Pelas redes sociais, o ator Ícaro Silva se manifestou sobre a onda de protestos que se espalhou pelo mundo após o assassinato de George Floyd, um segurança negro que foi morto asfixiado por um policial branco, em Mineápolis, nos Estados Unidos. 

O artista publicou um desabafo sobre o racismo e sobre como ter aceitado o próprio cabelo naturalmente se tornou uma empoderamento. “Meu cabelo é uma das maiores belezas que eu encontrei nessa vida. E não falo só dessa plástica nobre e impecável que ele imprime ao meu rosto, acentuada pela robustez da minha belíssima barba, sem falsa modéstia, mas da liberdade que existe nessa volumosa e macia esfera de pequenos, cheirosos e grossos cachos negros”, começou. 

Ícaro seguiu refletindo sobre não ter aceitado os fios naturais durante a adolescência, quando o preconceito influenciou e atrapalhou seu processo aceitação e amor próprio. “Ícaro de 13 anos sente uma fisgada de dor quando pensa que não teve esse cabelo. Porque não podia, ‘não era bonito’. As pessoas na escola xingariam. Minha irmã já tinha que prender o cabelo (absolutamente perfeito), o meu era melhor nem deixar crescer. Deixei a contragosto, aos 15, para fazer um trabalho, que não trouxe muito, mas trouxe tudo. Nunca mais esqueci desse encontro”. lamentou ele.

O artista falou do significado de um presente especial que ganhou do pai, que ajudou em processo de aceitação e de autoconhecimento. “Ali estava a literal coroa de liberdade e beleza que orientaria muitos dos meus passos. Meu pai me deu então um objeto que eu já conhecia, mas que não tinha como fazer parte do meu cotidiano até ali. Esse garfo da segunda foto ele fez com as próprias mãos, nos anos 70, quando era mais jovem do que sou hoje e cantava à frente da “Quinta Dimensão”, sua banda de covers com rapazes pretos que foram empurrados em direções muito diferentes das de seus sonhos”, escreveu na legenda da foto de um pente garfo.

“Que lindo meu pai (lindo mesmo, ele é gato real) foi e é ao me dar esse instrumento de pura liberdade. Eu concordo com a Nina Simone quando ela diz que ‘Liberdade é não ter medo’. É difícil ser livre e preto. Sempre difícil. Que duro é ver o genocídio da nossa gente e a face podre e pestilenta do racismo surgindo impunemente na figura de assassinos a serviço do Estado”, apontou.

Ao finalizar, exaltou a força e a história de vida do pai, em viver nesse ‘inferno que é o Brasil’: “Meu pai, você me inspira a viver muito e a gerar outros frutos como eu, naturalmente coroados. Esse poderia ser um post para respirar no caos, rebatendo o fascismo com beleza, que é o que tenho tentado para manter a saúde mental, mas é na real um post de apreciação ao meu pai, que sobrevive como homem preto há quase 70 anos nesse inferno que é o Brasil.”